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"Ecologizemos a economia"

“A natureza já está construindo um novo Rio Doce. Ele sobreviverá, pois faz parte da Terra. O que não atenua o tamanho da tragédia.”

Eu nunca considerei a mineração referência em sustentabilidade e nem penso que Minas já foi vanguarda em política ambiental. Sempre me manifestei claramente, e sem sectarismo, tentando alertar a sociedade e as autoridades.


Matando gente sim, e ecossistemas, principalmente, que são estruturas organizacionais da natureza e que respondem pela vida de milhares de espécies vegetais e animais, macro e microbianas.


Crédito: Fred Loureiro/Secom ES

Quanto à proporção do desastre, não acho que vai acabar com o Rio Doce na forma linear de pensar a evolução dos movimentos da natureza, ou seja, no que denominamos tempo linear. Pensando ciclicamente o tempo, a natureza já está construindo um novo Rio Doce. Ele sobreviverá, pois faz parte da Terra. O que não atenua o tamanho da tragédia.


O acontecido em Mariana foi possível pela lógica destrutiva do sistema econômico, focado prioritariamente na produção de lucros com a maior velocidade possível, visando ao mercado internacional. Nunca esses negócios priorizaram a felicidade e a paz em nossa sociedade; usam e abusam do marketing da sustentabilidade e do compromisso social das empresas.


As empresas mineradoras e as demais - pois há uma rede do capital financeiro-empresarial unindo-as como pessoas físicas e jurídicas, em todos os ramos de negócios-, gozam da proteção do Estado, cujos governantes são patrocinados por esses mesmos negócios em suas carreiras políticas. Os conselhos chamados participativos são uma farsa visando dar maquiagem ao sistema e legitimar decisões já tomadas autoritariamente.


Há uma lição que devemos tirar do episódio que é fundamental, imperativa: temos de ecologizar a economia. Os empreendimentos só podem ser licenciados se subordinados à lógica dos ecossistemas. E por referenciamento geoespacial, por microbacias hidrográficas. Precisamos conhecer os impactos nas águas em cada território e ter planos emergenciais. Não podemos colocar em risco ecossistemas do porte de um Rio Doce. A água tem que ser assumida como eixo metodológico, territorial da gestão, do biomonitoramento e da mobilização social. Os rios são informações que fluem e os espelhos d’água mostram a cara da nossa civilização.


Temos que banir as monoculturas e o desmatamento. Banir os minerodutos e as barragens de rejeitos. Não podemos admitir lançamento de agrotóxicos por aviões e ter controle sobre sua comercialização. Nossa matriz energética tem que ser renovável e poupar nossos rios de hidrelétricas. O Brasil precisa ter um projeto de nação, e as políticas financeira e econômica serem meio para esse fim. Precisamos conquistar uma segunda geração de independência e reciclar a nossa mentalidade.

(*) Idealizador e co-fundador do Projeto Manuelzão, da UFMG.

04 de janeiro de 2016

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